Segundo especialistas, a diminuição da quantidade de biodiesel ao diesel reduziria os custos do transporte e o risco de danos ao motor
Na semana passada (14), o governo federal determinou a continuidade da mistura de 10% (B10) de biodiesel ao diesel. Ou seja, nada muda até o próximo leilão. Seja como for, havia o risco de a mistura subir para 13% (B13). Isso porque a mistura atual era uma medida temporária para conter o avanço do preço do diesel.
A ameaça de mudança provocou reações de entidades que representam mais de 200 mil empresas. São produtoras, distribuidoras, importadoras, revendedoras e transportadoras. E, também de outros setores da indústria.
Em nota, elas alertaram que a mudança provocaria alta nos custos do transporte de cargas e passageiros. E, consequentemente, o aumento de preços dos produtos transportados.
Redução favorável
Segundo o comunicado, outro efeito negativo seria o aumento das emissões de óxidos de nitrogênio. E também de hidrocarbonetos e monóxido de carbono. Além disso, a mistura maior eleva o consumo de combustível.
Além disso, estudo feito pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) aponta vantagens na redução da mistura. Ou seja, se houver baixa de 50% da mistura do biodiesel ao diesel, haveria alivio imediato nos preços. Isso porque o óleo vegetal tem peso importante no preço do produto final.
Esse valor inclui impostos e o preço da refinadora. Além da margem de lucro. O biodiesel representa 13% do preço do diesel S10 e 12,4% do S500. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural de Biocombustíveis (ANP),
Diesel representa 50% do custo da mistura
Contudo, a maior parte do custo é relativa ao diesel. Ou seja, 50%. O biodiesel representa 7% do preço do diesel na Europa e 5% no Japão. Nos Estados Unidos, o porcentual varia de 6% a 20%.
Conforme a projeção da CNT, se a mistura de biodiesel caísse a 7%, o preço do diesel recuaria 4,1% ante o nível atual. Caso a mistura fosse reduzida para 6%, o recuo no preço do diesel seria de 4,8%.
O Estradão ouviu especialistas para saber quais seriam as vantagens da redução do biodiesel no diesel. Consultamos profissionais da indústria de motores e do setor de transporte rodoviário de carga.
Benefícios ao motor
A redução de 50% do biodiesel ao diesel seria benéfica aos motores. Nesse sentido, haveria maior estabilidade do combustível à temperatura e oxidação. Segundo o diretor da Unidade de Negócios de Motores e Geradores da MWM, Cristian Malevic.
De acordo com ele, os sistemas de injeção e combustão também ficariam menos suscetíveis à contaminação. Além disso, haveria redução de risco de danos ao sistema de pós-tratamento dos gases de escape.
Segundo ele, o problema é maior nos motores que ficam muito tempo parados. Por isso, muitas vezes as fabricantes têm de usar aditivos antibactericidas em testes. “Não é incomum ser preciso substituir o sistema de injeção”, diz Malevic.
Redução de custos
Na prática, o biodiesel gera mais custos. Mesmo com a mistura de 10%. De acordo com o assessor técnico da Associação Nacional do Transporte & Logística (NTC&Logística), Lauro Valdivia.
Ele adverte que, para surtir efeitos significativos em termos de economia, o porcentual teria de ser muito maior. “Isso não resolve o problema do alto custo do diesel para o transportador”, diz.
Segundo o especialista, o baixo preço do frete reduz ainda mais as margens de lucro. Por isso, segundo ele, é preciso focar a gestão do negócio. “Há empresas que nem fazem controle de consumo”, afirma.
Origem do combustível
O biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis. Assim, pode ser obtido por meio de diferentes processos. Ou seja, a partir de gorduras animais ou óleos vegetais. Como mamona, palma, girassol, babaçu e soja, entre outros.
Durante quase 50 anos, o Brasil fez pesquisas sobre esse combustível. Além disso, promoveu testes e várias iniciativas para tentar tornar o produto viável. Assim, o objetivo era criar um substituto ao petróleo por causa das constantes altas de preço.
Porém, somente em 2002 surgiu um programa de substituição do diesel de petróleo. Batizado de Probiodiesel, previa que até 2005 o diesel teria 5% de biodiesel. Nesse ínterim, o País só criou uma lei que obrigava 2% da mistura em 2008.
Biodiesel nunca emplacou no Brasil
Conforme o percentual de biodiesel foi aumentando, começaram a surgir casos de problemas. Um deles era o aumento do consumo de combustível. Isso seria resultado da menor capacidade energética do óleo vegetal.
Segundo especialistas, o único ponto positivo seria a redução das emissões de poluentes. Contudo, a alta no consumo neutraliza essa vantagem. Além disso, ficou comprovado que produto vegetal gera altos índices de nitrogênio após a queima em motores.
Ao mesmo tempo, as fabricantes tiveram de fazer alterações nos motores. Isso porque o óleo vegetal aumenta a oxidações das peças internas. No fim, a conta não fecha.
Fonte: Estradão