Banco Central ofereceu linhas para bancos que somam R$ 1,5 trilhão, mas disponibilidade de crédito no mercado ainda é limitada.
Empresas com alguma reserva de caixa tiveram fôlego para atravessar o primeiro mês da crise causada pela pandemia do novo coronavírus. A maioria, porém, precisou buscar crédito no mercado – e saiu de mãos vazias.
De acordo com a Pesquisa de Impacto no Transporte – Covid-19, realizada pela CNT no início de abril, 35,4% dos mais de 700 empresários entrevistados, relataram o acesso ao crédito já está mais difícil. E não foi por falta de ação do Banco Central, que ofereceu linhas para os bancos com o intuito de garantir liquidez ao sistema – um movimento de cerca de R$ 1,5 trilhão.
O que houve, então?
“Venho acompanhando a questão do crédito e vejo um represamento muito grande do crédito dos bancos. Mesmo que eles tenham disponibilizado R$ 50 bilhões, a demanda é enorme, gigantesca. Eu diria que da ordem de R$ 500 bilhões a R$ 600 bilhões”, aponta o economista Ricardo Jacomassi, sócio da TCP Partners, empresa especializada em investimentos e gestão. “A gente monitora a acessibilidade a esses recursos e viu uma redução dos limites muito drástica, acompanhada de um aumento da taxa de juros”, complementa.
À medida em que a crise instalada pela pandemia se aprofunda, fica mais evidente o drama do capital de giro. “Estamos indo agora para a terceira folha de pagamento pós-choque. As pessoas estão em casa, as operações não estão rodando. De onde virá o recurso? A empresa que não tem caixa, que não tem gordura, vai ter que depender de crédito. Ou é do banco, ou é de fundos”, sentencia.
Quanto aos fundos de crédito, o diagnóstico de Jacomassi é que eles praticamente pararam. “Eles travaram. Também para preservar caixa, porque não têm tanta estrutura como os bancos comerciais”, diz. “Foi quando entramos no segundo mês que ficamos muito preocupados. De alguma forma, esse dinheiro que foi colocado à disposição pelo BC precisa chegar à ponta. Imagino que os bancos tenham ficado retraídos, aguardando para entender a dinâmica”, analisa.
Apesar da gravidade do cenário, Jacomassi não é pessimista. “Acredito vamos ter uma volta gradual do crédito”, prevê. O que preocupa é a taxa de juros, que, elevada como está, onera as operações. “É preciso entender que, para a recuperação, o caixa de uma empresa não será aquele mesmo de antes da crise. Para uma retomada mais consistente, é superimportante irrigar o mercado. Tem que ter uma irrigação exponencial, porque senão a gente não vai conseguir sair desse momento com qualidade”, ressalta.
Seja como for, o conselho dos analistas para empresários em geral e, em particular, do setor transportador é: aproveitar ao máximo as condições diferenciadas oferecidas pelo governo; buscar crédito na medida de suas possibilidades; e limitar os gastos ao essencial para funcionamento do negócio, com ênfase em folha de pagamento.
Fonte: Agência CNT de Notícias – 23/04/2020