Volume diminui 99% na comparação com março; Anfavea admite que nível baixo eleva ociosidade e coloca empregos em risco

A produção de veículos registrou em abril seu pior nível desde 1957, quando o setor começou a computar os dados. Na época, a indústria brasileira contava com apenas seis fábricas, todas na região do ABC Paulista. Os números divulgados na sexta-feira, 8, pela Anfavea, mostram que a crise está longe de terminar.

No mês passado as plantas brasileiras montaram apenas 1,8 mil unidades, entre veículos leves e pesados, volume que representou queda de 99% na comparação com março, quando a indústria entregou 189,9 mil veículos. Foram pouco mais de 1 mil automóveis (-99%), 403 caminhões (-95%) e 396 ônibus (-80%), segundo os dados da entidade.

Vale lembrar que no Brasil as fábricas começaram a paralisar suas operações a partir de 23 de março. Até aquele momento, a indústria vinha operando no seu ritmo normal, se preparando para um tradicional aumento das vendas que acontece em março, após os dois primeiros meses do ano serem historicamente mais fracos.

Ainda assim, a produção foi prejudicada naquele mês: 63 das 65 fábricas que a indústria possui atualmente ficaram totalmente paralisadas na última semana de março e com isso seus 125 mil funcionários ficaram em casa.

Grande parte delas assim permaneceu até 13 de abril, quando algumas começaram a retomar suas atividades. Até 30 de abril, apenas oito fábricas e seus 30 mil funcionários voltaram a operar, o que explica o baixo volume de produção para o mês. Em maio, 55 plantas produtivas permanecem fechadas e seus 5 mil funcionários continuam em casa.

O presidente da Anfavea reconheceu que a produção abaixo de 1,8 mil unidades de fato eleva a ociosidade a níveis inaceitáveis e coloca em risco os empregos no setor.

“Se a crise passar rápido e a produção voltar a crescer acima dos 2,4 milhões de veículos em 2021, é possível manter o nível de emprego do setor com medidas de flexibilização de contratos. A retomada vai ser lenta, mas se demorar muito a passar, certamente teremos problemas e aí não dá para garantir o mesmo nível de emprego”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.

O executivo reforçou que a decisão de fechar as fábricas foi espontânea de cada uma das 26 montadoras associadas à Anfavea a fim de se adaptar ao momento e para preservar a saúde de todos os trabalhadores. Cada empresa também programou ou está programando a volta da produção de acordo com seus volumes de estoques e com as negociações feitas com os sindicatos para reduzir jornada e salários. Todas elas, segundo Moraes, não vão retomar do nível que pararam, a maioria deverá adotar apenas um turno de trabalho para produzir em ritmo mais lento.

Empregos e estoques

O número de trabalhadores na indústria automotiva fechou abril em 125,3 mil pessoas, uma redução de 0,3% ou algo em torno de 400 vagas a menos com relação a março, quando a indústria registrou 125,7 mil empregos diretos. A Anfavea considerou o número estável. Com relação a abril do ano passado, quando o total de funcionários era de 130,2 mil, a queda foi de 3,7%.

Moraes disse que não tem notícia se algum empregado da indústria automotiva está com a Covid-19, mas assegura que ninguém se infectou no trabalho porque as linhas estão paradas. Também disse que as fabricantes estão estudando a testagem para os trabalhadores, mas ainda não o fizeram porque é complexo em uma indústria com milhares de empregados.

O número de veículos em estoque atingiu 237,3 mil unidades em abril, o suficiente para 128 dias ou quatro meses de vendas, considerando a média de vendas de abril.

“É natural por conta da queda substancial de vendas”, avaliou o presidente da Anfavea. “Só não é pior porque paramos de produzir e a produção vai depender da dinâmica da retomada da demanda”, ponderou.

Fonte: Automotive Business