O número de mortes no trânsito atinge níveis cada vez mais alarmantes. Neste ano, 151 pessoas foram vítimas fatais de acidentes de trânsito, conforme dados do Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo).
Já os homicídios foram responsáveis por 128 vítimas fatais, conforme os números da SSP (Secretaria de Segurança Pública) do Estado. Considerando as duas estatísticas, há uma diferença de 17,97%, sendo que há mais mortos no trânsito do que em assassinatos.
Conforme especialistas, os dados de mortes no trânsito são alarmantes e evidenciam necessidade de mudança de postura do poder público em relação ao assunto. Conforme o consultor em engenharia de transporte e segurança de trânsito Horácio Figueira, os índices mostram que políticas públicas devem ser criadas .
“Eu já ouvi de gestores públicos que o trânsito não é tão importante, que mata, mas há outras prioridades. Cada morto no trânsito tem um custo social de R$ 1 milhão. Isso contando o tempo hospitalizado e gastos em Saúde Pública, o custo social com pensão para família e isso sem contar a dor. Então, acredito que para cada morte a mais que você tiver na sua cidade, teria que tirar esse valor do Orçamento. Isso está impactando em várias esferas e exige medidas drásticas.”
Para ele, o motorista também assume o risco de matar quando toma algumas atitudes. “Não existe acidente de trânsito quando o motorista atende o celular, bebe ou não uso cintos de segurança. Tudo isso é um fator a mais de risco que eles estão assumindo”, opinou Figueira.
O professor de Engenharia Civil do Centro Universitário FEI Creso Peixoto chamou a atenção para a necessidade de resgate da segurança do cidadão. “Está acontecendo uma coisa curiosa. Com medo de serem agredidas nas ruas, as pessoas começam a andar menos a pé e com isso você induz ter mais carros nas vias. E em tempos de crise, o que costuma acontecer é diminuição de frota circulante e também a possibilidade de ter acidentes com vítimas”, afirmou.
“O medo de sofrer agressão é maior do que de um acidente. Muitos motoristas não acreditam no limite de velocidade, não sentem medo de serem flagrados depois de beber e, se não aumentar a fiscalização, isso é receita de geração de números de mortes”, completou o especialista.
POPULAÇÃO
Mesmo com os números, os motoristas e pedestres sentem mais medo da violência do que morrer em um eventual acidente de trânsito. O eletricista José de Araújo, 73 anos, morador de Santo André, dirige há 40 e já chegou a trabalhar como motorista. Ele se orgulha ao dizer que nunca bateu o carro.
“Sei que dirigir acaba sendo muito perigoso, porque você tem que dirigir mais pelos outros do que por você. Mas, atualmente, tenho mais medo de ser assaltado ou morto do que me envolver em algum acidente”, disse.
A cozinheira Cleidismar Leite da Silva, 60, de Mauá, nunca dirigiu, mas tem a mesma opinião. Ela afirma que muitas vezes os motoristas não respeitam a faixa de pedestres, mas o seu maior medo também é a violência.
“No ponto de ônibus perto da minha casa, no Centro, assaltaram umas cinco pessoas de uma vez há pouco tempo. A gente não se sente segura andando na cidade, ainda mais sendo mulher. Acho que a questão da faixa de pedestres é o de menos.”
Consórcio Intermunicipal é responsável por campanha
Na região, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC realiza desde 2011 a Campanha Travessia Segura. O programa é trabalhado a longo prazo, com ações constantes que priorizam o pedestre e alertam o motorista. O objetivo é estimular a mudança de comportamento da população e implantar o gesto de estender o braço nas travessias sem semáforo.
A campanha foi retomada na última semana, quando o personagem Mister Mão voltou a dez escolas da região. A nova etapa contará com 80 ações, realizadas até 12 de novembro em escolas e travessias diversas.
Conforme o Consórcio, a iniciativa contribuiu com a redução dos acidentes da região, segundo dados do Comando de Policiamento Militar da Região do ABC. A queda, entre 2012 e 2015, foi de 38,06% nos acidentes com e sem vítimas e atropelamentos.
No primeiro semestre deste ano, a entidade regional realizou trabalhos em 54 escolas.Questionadas sobre campanhas, a Prefeitura de São Caetano afirmou que realiza fiscalização diária do trânsito na cidade, sempre visando o bem-estar dos munícipes.
O DET (Departamento de Engenharia de Tráfego) de Santo André afirmou que tem banco de dados com informações desde o ano de 1989 e está finalizando boletim geoestatístico, que deve ser levado a público até novembro. Rio Grande informou que o departamento de trânsito não é municipalizado. As demais não responderam.
Para o consultor em engenharia de transporte e segurança no trânsito Horácio Figueira, faltam campanhas que também chamem a atenção do motorista. “Parece que o pedestre está pedindo pelo amor de Deus para não ser atropelado. Falta sensibilizar o motorista.”
Policia Rodoviária registra 28 vítimas fatais nas rodovias no mesmo período
Nos trechos das rodovias que cortam o Grande ABC, a Polícia Militar Rodoviária contabilizou 28 vítimas fatais em acidentes de trânsito até setembro deste ano. O número é menor que o do mesmo período de 2015, quando houve 32 mortos.
Em contrapartida, a relação de multas aplicadas aumentou em 74,89% neste ano. De 48.852 atuações,os dados saltaram para 85.435.
Conforme o comandante da primeira companhia do 1º BPRV (Batalhão de Policiamento Rodoviário), capitão César Rossignoli, a maioria é relacionada ao artigo 185, que fala sobre a permanência de veículos mais longos e lentos, como caminhões, na faixa da direita. “Acredito que uma média de 6.000 infrações estejam classificadas nesse artigo, em um universo de 120 mil. Em seguida vem o artigo 196 (deixar de utilizar a seta).”
A corporação faz diversas campanhas nas vias, entre elas a Operação Direção Segura, que aborda motoristas para verificar o consumo de álcool, e a Cavalo de Aço, que fiscaliza motociclistas. Na Operação Vaga Lume, os policiais distribuem adesivos luminosos para os motoqueiros. Uma ação realizada diariamente é o Café com Motoristas, que é feito em diversos pontos das rodovias e também com os pedestres, o que costuma ser feito próximo a passarelas.
“A maioria de vítimas fatais nas rodovias é de pedestres e motociclistas. Referente aos pedestres, os acidentes ocorrem em 99% dos casos em até 500 metros de distância das passarelas. Na Anchieta são 15 passarelas em toda a via e mesmo assim temos atropelamento de pedestres. Muitas pessoas dizem que têm medo por causa de assaltos, por isso nós começamos a fazer operações criminais nas passarelas, onde já prendemos quatro indivíduos”, afirmou.
Fonte: Diário do Grande ABC – 3/11/2016