Alta do combustível prejudica transportadoras de carga e empresas de ônibus no Grande ABC.
Após sucessivas altas, o gasto com óleo diesel se consolida como um dos principais desembolsos das empresas que dependem do combustível. Para as transportadoras de carga, o dispêndio com o insumo supera em até três vezes o custo do motorista do veículo. Já para as companhias de transporte coletivo, as despesas com o diesel estão cada vez mais próximas do total gasto com a folha de pagamento.
As transportadoras de carga – há cerca de 1.000 ativas na região – costumam sentir mais a alta dos preços nas entregas que têm percursos longos. Conforme cálculo realizado pelo Setrans (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Grande ABC), uma carreta que precisa fazer viagem de 500 quilômetros, com valor do diesel a R$ 4 – preço mais comum encontrado na estrada –, gasta cerca de R$ 1.000 (um litro roda dois quilômetros). O custo do motorista para a empresa, por sua vez, fica entre R$ 300 e R$ 350 por dia.
De acordo com o diretor do Setrans Fábio Brigidio, o combustível subiu pelo menos 11% desde o início do ano. “O problema começou com a política de preços da Petrobras (leia mais abaixo). O reajuste antes era anual, agora é quase que diário, podendo ser de duas a três vezes por semana.”
Na região, o valor médio do litro do combustível registrado na última semana de abril é de R$ 3,368, de acordo com dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que considera seis cidades – não há dados de Rio Grande da Serra. Diadema e Mauá têm os maiores preços, R$ 3,599. Se for considerado o custo médio do diesel no período, ele é 13,94% maior do que um ano atrás. Se comparado a 2013, o valor atual é 47,78% maior.
Empresário do ramo, o proprietário da Zorzin Logística, que tem sede em Mauá, Marcel Zorzin, relatou que, com a flutuação do diesel e a disparada do preço, fica difícil fazer planejamento e repassar a alteração ao cliente. “Na estrada, o combustível pode chegar a R$ 4. Muitas vezes, se fazemos cotação para um cliente e ele demora uma semana para fechar, o preço já mudou, e não conseguimos alterar o valor. Essa política de reajuste semanal é inviável. Sem contar que não tem como fazer alterações em contratos grandes. Muitas vezes não conseguimos repassar o valor, temos de absorvê-lo.”
Além disso, a competitividade também fica comprometida. Isso porque países com os quais o Brasil faz fronteira, como o Paraguai, o combustível é mais barato. “Costuma ficar em torno dos R$ 2 (litro). Muitas empresas preferem contratar transportadoras de lá, porque gastam menos com o diesel e o frete fica mais acessível. Assim, acaba com a concorrência, já que fica difícil chegar ao valor deles”, afirmou Brigidio.
TRANSPORTE COLETIVO – Conforme a Aesa (Associação das Empresas do Sistema de Transporte de Santo André), há cinco meses os gastos com combustível representavam 25% dos custos das firmas do setor e, agora, já beiram os 32%. Para efeito de comparação, os desembolsos com a folha de pagamento consomem 50% do total. De acordo com o diretor-geral da entidade, Luiz Marcondes Freitas Júnior, todo o sistema de ônibus consome de 900 mil a 1 milhão de litros de combustível mensalmente na cidade. Dessa forma, o incremento com a alta do diesel representa gasto extra de R$ 350 mil mensais.
Marcondes também disse que o planejamento ficou mais difícil depois da mudança da política de reajuste de preços da Petrobras, com o agravante de que o valor da tarifa de ônibus é reajustado anualmente, ou seja, o repasse fica ainda mais difícil. “As empresas já fizeram uma reorganização interna, mas estão no seu limite. O diesel também gera aumento do lubrificante e de outros insumos, como peças e acessórios, já que a entrega é feita por meio de veículos abastecidos com esse combustível. Isso gera efeito cascata. Cada aumento é um repasse, enquanto que o sistema fica engessado dentro de tarifa.”
Nova política foi iniciada em junho de 2017
A nova política de preços da Petrobras para os combustíveis foi iniciada em junho de 2017. Os reajustes podem acontecer em período menor de tempo e passaram a considerar fatores externos para o preço. Conforme o presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do ABCDMR), Wagner de Souza, somente no último mês o litro subiu R$ 0,20 na região. “Estamos segurando alta média de R$ 0,10 por litro. O mercado está muito recessivo, e você não consegue repassar.”
A Petrobras informou que o valor cobrado nas refinarias e nos terminais é apenas um dos componentes do preço na bomba. “Tributos, preço do biodiesel e margens de distribuidores e revendedores também influem no custo”, disse, em nota.
O coordenador de estudos do Observatório Econômico da Metodista, Sandro Maskio, destacou a influência do dólar. “O mercado externo influencia, principalmente pelos acontecimentos em países que fazem parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). E também o câmbio. Com a desvalorização do real por conta da alta do dólar, os custos com importação são maiores, o que interfere no preço para o consumidor final. A alta do dólar na semana (acima de R$ 3,50, maior patamar desde junho de 2016) provavelmente será sentida no fim da semana que vem (nesta), pois leva um tempo até as negociações de preços de importação chegarem.”
Fonte: DGABC – 06/05/2018
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